Coringa: Delírio a Dois provou ser um filme difícil. Seu formato, suas músicas e principalmente suas escolhas narrativas incomodam no mesmo nível que intrigam. A história serve como uma análise de seu precursor, mas se o primeiro filme já lhe pareceu parado, nem vale dar uma chance para este.
A maior parte dos atos musicais são tratados de forma sóbria, realista, o que desfavorece os principais talentos da co-protagonista Lady Gaga. Quando a história permite que ela brilhe, fica claro o que enxergaram na cantora e atriz, mas nos resta o questionamento do porquê ela foi tão pouco utilizada. As comparações com Dancer in the Dark são inevitáveis, tanto pelo uso de Gaga como pela ambientação da história.
Visualmente o filme impressiona menos que o primeiro também, mas isso não quer dizer que a fotografia deixa de ser extremamente bem executada. Isso se dá em parte pelo objetivo claro de desconstruir o mito criado em cima de Arthur Fleck, tanto no universo de Gotham como no mundo real. Critica-se, principalmente, a espetacularização dos acontecimentos, como a mídia se aproveita para capitalizar em cima da situação.
As cenas musicais variam em qualidade, tendo umas três que são notáveis, enquanto cerca de 30% delas poderiam ser cortadas sem que o filme sofresse, pois apesar da música ser usada como uma ferramenta de conexão entre Arthur e Lee, a maioria das canções só reitera sentimentos que já estão claros para o espectador.
Apesar das ressalvas, acreditamos que esse é o tipo de filme que precisa ser assistido para formar a própria opinião. Há muito nele para se discutir e refletir.