Anora é uma montanha-russa de emoções, um conto moderno com pitadas de tragédia que parte de uma premissa intrigante: uma jovem dançarina de boate se envolve com um cliente, cujo principal ganha-pão é um negócio misterioso ligado à máfia russa. A história, que mistura paixão e perigo, rapidamente mergulha em um caos crescente de problemas que se encadeiam.
Muito aguardado desde sua estreia em festivais no exterior, o longa prometia ser uma experiência intensa desde seu trailer, mas acabou entregando um resultado um tanto irregular. O filme brilha pela adrenalina que constrói, especialmente em seu segundo ato, que é intenso e marcante. No entanto, ele sofre de inconsistências no ritmo, com um bloco central que parece arrastado, comprometendo a experiência.
Com 2 horas e 20 minutos de duração, há a sensação de que poderia ser mais conciso — funcionando melhor como um filme de 1 hora e 40 minutos. Essa economia de tempo (ou o próprio remanejamento de narrativa) reforçaria o aspecto acelerado e caótico, que tão bem fez Jóias Brutas (dos irmãos Safdie), embora Anora tenha sua própria identidade, moldada pela direção de Sean Baker (de Red Rocket).
Por sinal, Baker explora com habilidade os temas do filme: há prazer, feminilidade e dinâmicas de poder em situações marginais. Seu estilo ácido e um tanto provocador confere uma roupagem indie ao filme, utilizando com maestria os recursos limitados — como a única mansão que serve de cenário para a nova vida da protagonista e o detalhe discretos do uso simbólico de um casaco —, comunicando o luxo sem precisar de exageros expositivos.
E inevitável deixarmos de fora os elogios a Mikey Madison que, no papel principal, entrega uma atuação convincente. A mudança rápida entre gêneros — de thriller criminoso a romance, comédia e ação — pode agradar ou afastar espectadores, dependendo da disposição para abraçar essa fluidez.
Anora é um filme que, apesar de suas falhas, merece ser visto, especialmente nas telonas, onde seu impacto visual e narrativo pode ser melhor apreciado. Embora tenha demorado para chegar ao Brasil (estreia em 25 de janeiro), vale a pena conferir, com ressalvas.