Emilia Pérez

Emilia Pérez é, sem dúvidas, uma das maiores decepções cinematográficas dos últimos tempos. O filme tenta se vender como uma obra importante, mas a execução é absolutamente desastrosa. A trama, que gira em torno de uma transição de sexo, de vida e identidade, falha miseravelmente em gerar qualquer tipo de envolvimento emocional, deixando o espectador completamente perplexo — mas não de uma forma intrigante, nem satisfatória.

A história segue uma ex-criminosa tentando deixar o passado para trás e começar uma nova vida. E para por aí, quase se esquivando de apresentar motivação, ou desenvolvimento consistente para a personagem.

O maior pecado do filme é, sem dúvida, a tentativa de ser um musical. A música é horrível. Não é nem questão de gosto. As canções são forçadas, mal compostas e absurdamente irritantes, o que torna a experiência de assistir ao filme uma tortura em paralelo. As letras são preguiçosas, a melodia é vergonhosa e a produção musical em si é pobre. Mesmo o número musical que se destaca nas premiações é, de fato, uma bizarra escolha.

Em termos de performances, Zoë Saldaña consegue se destacar em alguns momentos, mas não o suficiente para salvar o filme. Sua atuação é decente, mas fica perdida em meio a um roteiro incoerente e uma narrativa que não sabe aonde quer chegar. Karla Sofía Gascón, por sua vez, é uma que convence. Porém, os aspectos de transição de sua personagem são feitas de maneira superficial, sem a profundidade necessária para que o público realmente se importe com a jornada — muito menos com as músicas que escolheram para usar de aprofundamento psicológico para a personagem.

O filme tenta transmitir uma mensagem de moralidade e transformação, mas acaba fazendo tudo de maneira punitiva e melodramática, sendo impossível tirarmos algo positivo disso. Em vez de um estudo interessante sobre mudança, sobre ser trans e sobre identidade, Emilia Pérez se torna uma lição de moral desagradável.

Num ano tão razoável para o cinema, é lamentável que um filme tão abaixo da média esteja ocupando esse espaço em premiações (em específico do Oscar), tirando oportunidades de obras que realmente merecem reconhecimento, vide Rivais e Duna Parte 2. Se for para falar de histórias trans ou de musicais, há melhores exemplos nesses últimos meses.