Patrick Bateman é um profundo perdedor, mas essa é a intenção. Foi isso que passou pela minha mente durante toda duração do filme.
Psicopata Americano é um filme com um objetivo tão explicito, que apresenta tudo de forma tão clara que me parece impossível que alguém termine a película o vangloriando…, mas sabemos que não é bem assim.
De mãos dadas com Clube da Luta, Psicopata Americano é uma crítica direta ao consumismo exacerbado que consumiu os Estados Unidos desde seu boom econômico pós-segunda guerra.
Tudo se resume a jantares inexplicavelmente caros – com pratos que são verdadeiras obras de arte, mas que não matam a fome de forma alguma – usar a marca certa de terno, de óculos, ter o melhor apartamento, com a melhor vista. E, na cena mais engraçada do filme todo, ter o melhor cartão de negócios, com todos claramente iguais a olho nu, mas a menor mudança em gramatura já deixa Patrick visivelmente tremendo.
A vida de Patrick é cheia de luxúria, ao mesmo tempo que profundamente vazia. Como o próprio personagem aponta, não lhe restam sentimentos além de ganância e nojo. Tudo é uma performance, desde suas falas ensaiadas sobre os problemas do mundo, sua necessidade de se envolver apenas com mulheres loiras, um símbolo de status para ele, sem sombra de dúvidas, até seus atos violentos. Não há nada na vida de Patrick que não seja calculado, seja para passar uma certa impressão aos homens que o cercam – já que o protagonista se enxerga em constante competição com eles – ou para que ele sinta que está fazendo algo que o diferencia dos demais: matando, e se safando toda vez.
Há quem diga que toda essa violência é apenas fruto da imaginação de Patrick, e não é difícil imaginar porque: Bateman abertamente fala sobre seus crimes, seus impulsos assassinos, e ninguém estranha, nem mesmo suspeita de algo. Nem mesmo quando Patrick leva seus lençóis sangrentos para lavanderia vemos qualquer tipo de consequência.
Infelizmente, mesmo vinte e quatro anos depois do lançamento do filme, vemos que esse aspecto da história só se prova mais verdadeiro. Num paralelo particularmente sinistro, Bateman é obcecado com Donald Trump, com várias menções ao longo do filme, e não há exemplo mais perfeito do tipo de comportamento sendo criticado pela história e suas implicações no mundo real.
No fim das contas, não importa qual das muletas Bateman tente usar de apoio: viver de aparências, sempre buscando impressionar por meio de suas posses, dos lugares que frequenta e das opiniões claramente regurgitadas de algum outro lugar sobre política, cultura pop e culinária, ou descontando suas frustrações por meio da violência. Ele continua vazio.
Psicopata Americano não tenta em momento algum esconder qual é sua mensagem principal, e o tom de terror misturado com comédia tem o efeito necessário: em nenhum momento você enxerga Patrick Bateman como qualquer coisa além de uma figura profundamente patética.